Metodologia

Conheça a metodologia da pesquisa do OBISFRON

Debater a inovação social atrelada à abordagem do Bem Viver, surge como uma proposta potente para o enfrentamento dos desafios das sociedades latino-americanas, promovendo e valorizando a participação democrática dos atores, reavivando os laços comunitários e a busca por uma relação menos predatória com a Natureza. Isso justifica a importância do OBISFRON.

O OBISFRON surge da parceria com o Observatório de Inovação Social de Florianópolis (OBISF), plataforma digital que vai idealizar e disseminar o estudo da inovação social a partir do enfrentamento de problemas públicos, tendo por base uma abordagem pragmatista (ANDION et al., 2017; ANDION, ALPERSTEDT; GRAEFF, 2020). Em síntese, trata-se de compreender como as inovações sociais ocorrem (ou o que dificulta sua ocorrência) através das práticas e ações que as comunidades realizaram (e ainda realizam) no território ao longo do tempo, para enfrentar os problemas públicos, buscando uma mudança ou transformação social.

Inspirado nessa abordagem e reconhecendo as características socioterritóriais da fronteira Brasil-Bolívia, surgiu a viabilidade de promovermos um diálogo entre as inovações sociais pragmatistas com a abordagem do Bem Viver, Buen Vivir, Vivir Bien – uma construção política e epistêmica dos povos indígenas (andinos e amazônicos) que habitam o território de Abya Yala (denominação do território latino-americano anterior às intrusões coloniais) que busca uma sociedade formada por um tecido complexo, a partir de múltiplas cosmovisões, indicando a necessidade de se construir uma nova relação com a Natureza e de reavivar os nossos laços comunitários. Para isso, prioriza a  diversidade cultural, a interculturalidade, a plurinacionalidade e o pluralismo político (ou seja, o total oposto das práticas neoliberais que tendem para a homogeneização e a invisibilização da pluralidade e da diversidade). A Figura a seguir esquematiza o método de trabalho do OBISFRON, sendo detalhada na sequência.

Operacionalização do OBISFRON

Clique aqui para conferir essa figura em espanhol ou inglês

 

1) Identificar os principais problemas públicos: Estudar a fronteira a partir dos(as) fronteiriços(as) (GRIMSON, 2000) é uma condição necessária para podermos repensar a vida na fronteira Brasil-Bolívia (SANTO; VOKS, 2021). Isso começa identificando as práticas dos atores (o que eles fazem e como eles fazem), para reconhecer os problemas enfrentados e os invisibilizados pelo Poder Público. Na sequência, um levantamento em dados secundários é realizado para endossar a dimensão dessa problemática. Algumas áreas são específicas (ex. saúde pública), outras permitem ser aglutinadas (ex. vulnerabilidade social, racial e igualdade de gênero). Todas são listados no menu “problemas públicos”.

2) Rastrear e religar a rede (ecossistema) de articulação de problemas públicos: uma vez reconhecido os principais problemas públicos, busca-se identificar quais são as principais iniciativas de inovação social (organizações que promovem a ação) e as de suporte (organizações que apoiam ou financiam a causa); religando suas conexões e identificando seu campo de atuação (meio ambiente, infância, saúde, educação e outros). Esse mapeamento contribui para o fortalecimento democrático, uma vez que visibiliza a luta de várias comunidades, que nem sempre recebem atenção e apoio do Estado. Portanto, superar o estatismo é uma tarefa necessária, para podermos potencializar o local e o comunitário, onde o Estado deve ser um fator que contribua para o empoderamento das comunidades por meio de práticas não clientelistas (SÓLON, 2019).

3) Adentrar as Arenas Públicas: arenas públicas é uma noção proposta por Daniel Cefaï (2017), que permite reconectar o estudo de microproblemas sociais através da compreensão de como ocorrem as ações coletivas da sociedade civil. Uma arena não é um espaço físico nem institucionalizado. Ela é coproduzida como um fórum de discussões, onde os atores se encontram e exigem explicações, tomam posições e respondem a críticas, realizam dramatizações e tudo que permita conquistar auditórios para fazer valer a sua causa. Adentrar as arenas públicas (através de trabalho de campo) permite compreender o desdobramento da ação em torno de um problema público: o que de fato é feito, superado ou arrastado ao longo do tempo? quem são os atores de uma determinada causa? qual o papel do poder público nesse processo? Existem leis e políticas que tratam esse problema em específico? Essas são algumas das perguntas que permitem compreender o problema público em profundidade.

4) Priorizar as ações e as inovações construídas pelas comunidades: apesar de grande parte das respostas aqui mapeadas emanarem da sociedade civil, ela exige a participação do Poder Público, ao mínimo, nas seguintes ações: financiando as ações; visibilizando a luta dos atores e permitindo a sua participação na política (governança); transformando as práticas bem-sucedidas das iniciativas de inovação social em programas de governo e/ou políticas públicas efetivas, que devem ser implementadas visando garantir à promoção de direitos sociais e humanos e um desenvolvimento econômico, justo, amplo e sustentável. Esse é um dos sentidos fundamentais para se estudar os EIS na fronteira Brasil-Bolívia: promover o fortalecimento da democracia através da identificação e análise das ações das iniciativas no nível micro, ficando evidente como elas buscam encontrar saídas, cada vez mais difíceis e distantes, para enfrentar determinados problemas públicos.

O momento 4 não significa o fim dos problemas nem das atividades, afinal, a própria vida é contínua e os problemas públicos são recursivos. Alguns se arrastam há décadas (ex. acesso à água e pobreza), outros são tão rotineiros que se tornam “culturais” (ex. feminicídio na fronteira Brasil-Bolívia). Portanto, essa rede é viva, móvel e não termina. A cada momento histórico apresentará uma configuração específica. Quando defendemos a expressão “cultivando o Bem Viver através das Inovações Sociais”, nos referimos que precisamos escapar ao estatismo e nos aproximar dos atores da ação pública, que são cada vez mais numerosos. O desafio é enorme, mas, para um efetivo Bem Viver inclusivo e sustentável para todas e todos, a gestão pública já não pode mais caminhar sem reconhecer e valorizar as experiências participativas na fronteira Brasil-Bolívia.

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